A Natureza Ensina – Por Simone Mattos

Temos nos perguntado como ensinar às crianças o amor à natureza, a consciência ecológica, uma forma responsável de lidar com o meio ambiente. A pergunta permanecerá pertinente e discutir caminhos de sensibilização para estas questões nos levará a ampliar nossas possibilidades de atuação.
Entretanto, a pergunta aqui não será “Como fazer educação Ambiental?”, mas sim “Como educar levando em conta as lições que a natureza nos dá?”
Gostaria de refletir sobre a nossa prática pedagógica aprendendo com a natureza, com seus fenômenos, com seu funcionamento natural e com suas reações diante das agressões externas.
Em visita ao Parque Ecológico da Klabin, em Monte Alegre/Paraná, fomos convidados a escolher um dos passeios oferecidos ao grupo de ambientalistas, jornalistas, empresários e educadores que lá estavam. Escolhemos o caminho da floresta, embora já soubéssemos, desde a infância, que ir pela estrada seria mais seguro.
Estávamos diante de um grupo de árvores idênticas que chamavam a atenção por tamanha semelhança e, de tão organizadas, sugeriam harmonia. Árvores com 20 anos de existência, com seus galhos e troncos exatamente na mesma posição, provando-nos que a tecnologia no campo da clonagem vegetal já está extremamente avançada.
Educadora que sou, simpatizante das causas ambientais, tratei de me dedicar a aprender o máximo com tudo que pude observar.
Dirigimo-nos ao laboratório e fomos recebendo explicações sobre a clonagem florestal. Soubemos, então, que muitas foram as descobertas feitas ao longo dos anos, enquanto se buscava dominar todas as etapas desse processo: “Quando começamos a utilizar essa técnica perdemos muitas mudas, porque, no início, acreditávamos que somente as mais viçosas, aquelas que atravessassem todas as etapas do replantio, mantendo-se verdinhas e fortes, cresceriam saudáveis e poderiam virar árvores adultas, formando a nossa floresta de monocultura.” – contou-nos a bióloga que acompanhava o grupo.
Após inúmeras tentativas e experimentos, os cientistas descobriram que o que ocorre é exatamente o contrário. As mudas que ficam sempre lindas não aguentam o replantio. Elas precisam amarelar, enfraquecer, superar dificuldades e sobreviver para conseguirem virar uma árvore adulta.
Imediatamente, lembrei-me dos nossos alunos e da desconfiança que tantas vezes paira no ar quando suas diferenças surpreendem o olhar dos adultos, invadindo sua habitual expectativa da obviedade. Lembrei-me do descrédito depositado em algumas crianças e da suspeita de que não atingirão o sucesso!
Lya Luft, em seu livro “O Rio do Meio” narra sua trajetória como aluna medíocre: “Queriam que fosse obediente e atenta, que não caísse na risada fora de hora, que não devaneasse durante as aulas e finalmente domasse a letra que cambaleava em garranchos pela folha de papel.” Escritora de reconhecimento internacional, Lya Luft é um exemplo de uma muda, fora dos padrões necessários para a clonagem de aluno ideal, mas que, lançada à terra da vida, virou árvore adulta de grande valor.
Quero alertar para o fato de que a prática da monocultura pode levar ao empobrecimento das espécies, a degradação do solo e ao surgimento de pragas que se instalarão a revelia. Quero questionar a tentativa de padronizar comportamentos escolares com a utilização indiscriminada de medicamentos, em crianças absolutamente saudáveis, numa eterna busca de resultados nem sempre previsíveis.
Fortalecida em minhas convicções e apoiada nas lições da natureza, quero levantar uma bandeira pela “biodiversidade” dos seres humanos!
Escrevo para que nos lembremos do que nos ensinou a natureza nos laboratórios e canteiros de Monte Alegre: nem sempre são as mudas aparentemente adequadas que virarão árvores fortes, saudáveis e resistentes.

 

Simone Mattos
comunicóloga, psicolinguista, psicopedagoga e terapeuta de casal e família